quinta-feira, 9 de outubro de 2008

Pequena História do Esperanto (cordel) - Leite Jr.

Nestes versos populares,
O Esperanto é o tema.
Espero que Deus me ajude
Com sua luz neste poema,
Trazendo a inspiração
Na palavra e na noção
Sobre esse belo sistema.

O Esperanto é uma língua
Hoje mais que centenária,
Foi criado na Polônia,
Numa intenção libertária,
Por Lázaro Ludovico
Zamenhof, a quem dedico
Esta história doutrinária.

E essa língua apareceu
Num livro pequeno e enxuto:
Tamanho não é documento,
O que importa é o produto.
Dezesseis regras somente
Resumiam a semente
Daquele fecundo fruto.

1

No ano de 87
Do século XIX,
Pôde o mundo conhecer
A língua de Zamenhof,
Sobre a qual este poeta,
De forma simples, direta,
Vai falar em cada estrofe.

De família polonesa,
Descendente de judeus,
O menino Ludovico
Sempre surpreendeu os seus,
Tendo sido exemplar
Nos estudos e no lar,
Onde havia fé em Deus.

Zamenhof, polonês,
Praticando a medicina,
Receitou o Esperanto
Contra o mal que se origina
Com a Torre de Babel,
Quando o homem ousou o céu,
Sem a permissão divina.

2

Cada povo tem sua língua,
Seu costume e sua cultura.
A diversidade é tanta
E a tanto tempo perdura,
Que romper coma maldição
E ousar com um mundo são
É que parece loucura.

Na Bialistoque natal,
Falava-se polonês,
Russo, alemão, lituano,
Fora o ensino do francês,
Do latim e do hebraico,
No religioso ou laico,
Quantas línguas de uma vez!

Cada falante queria
Impor o seu pensamento
E a sua religião.
Que ódio no sentimento
Dessa cidade polaca...
O resultado era a faca,
No menor ressentimento.

3

Ludovico Zamenhof
Desde cedo percebia
Que na fronteira da língua
Muita batalha haveria.
Inconformado, ele, então,
Procurou a solução
Numa língua de harmonia.

E tanto isso é verdade,
Que o jovem polonês,
Ainda na adolescência,
Dedicou-se até que fez
Um livro com a língua nova.
Estava ali sua prova
De gênio e de sensatez.

Feliz, reuniu amigos,
Com os quais comemorou,
Soprando a vela do bolo
Que sua preparou.
De alegria ele exultava,
Pois seu sonho ali estava:
Num livro se transformou.

4

A Língua Internacional
Por ele foi batizada.
A sua idéia visava
A todos ser repassada,
Traduzindo a união
A todo povo e nação,
Numa língua planejada.

Mas o pai de Ludovico
Achou o projeto estranho.
Como é que alguém pensava
Tão grande desse tamanho?
Como é que um rapaz
Podia pensar em paz
Nesse mundo tão medonho?

Santo de casa não faz
Milagre, já diz a gente.
A voz do pai, preocupado,
Ganhou eco maldizente.
Houve conselho contrário
Àquele plano gregário
Do gênio do adolescente.

5

Assim o pai lhe pediu,
E jovem era obediente,
Que adiasse mais um pouco
Seu projeto persistente;
Mas, depois da medicina,
Se aquela fosse sua sina,
Que ele seguisse em frente.

Então, Ludovico foi
Estudar na faculdade.
O curso de medicina
Fez com zelo e propriedade.
Conforme foi prometido,
Adiou o seu sentido
De ajudar a humanidade.

Numas férias, no entanto,
Estando em casa outra vez,
Perguntou pelo seu livro
E um silêncio então se fez.
Vendo que o filho sofria,
A mãe disse que um dia
Do livro o pai se desfez.

6

O pai acabou queimando
A obra que o rapaz
Escrevera com esmero,
Dedicando-se tenaz
Ao que então se consumira
Numa incompreensível pira,
Pois sonho não se desfaz.

Tendo o pai rompido o trato,
Zamenhof redobrou
Seu esforço ano a ano,
Até que ele terminou
Uma versão mais madura
Da obra que, prematura,
O seu pai incendiou.

A chama do sacrifício
Incendiou-lhe o ideal.
Pediu ao futuro sogro
O apoio editorial
Para lançar o Esperanto;
E fogo nenhum foi tanto,
Que apagasse esse fanal.

7

A Europa ficou pequena
Pra tamanha expansão.
Antes do século XX,
Em constante progressão,
Não restou mais continente
Sem que a estrela reluzente
Brilhasse na escuridão.

O livro de 87,
Em russo, no original,
Teve nesse mesmo ano
Versão internacional,
Publicado em polonês,
Em alemão e francês,
Mantendo aceso o ideal.

Na língua da esperança,
Publicaram-se revistas.
Nova língua se falava
Nos clubes esperantistas.
Obras se traduziam,
E outras se produziam
No Esperanto entre os artistas.

8

Dezoito anos passados
Desde o livro original,
Realizou-se o congresso,
O primeiro universal,
Em Bolonha-Sobre-o-Mar.
Foi um evento sem par
No plano internacional.

Zamenhof lá esteve,
Ensinando sobre a essência
Do projeto que criou.
Por seu gênio e competência
Foi aplaudido e aclamado,
O patrimônio legado
Manteria a consistência.

E os anos que viveria
Zamenhof,com firmeza,
A missão continuava
No argumento e na franqueza.
A luta do Esperanto
Podia evitar o pranto
Da guerra e da malvadeza.

9

Apesar de tanto esforço
Em prol da paz e do amor,
A Primeira Grande Guerra
Trouxe um tempo de terror.
Até mesmo o Esperanto
Sofreu baixas, não o encanto,
Na morde do criador.

Em 17 morria
Com desgosto, certamente,
Zamenhof em plena guerra,
Mas deixou a toda a gente
O exemplo e a atitude
Pra que a humanidade mude
Superando-se na mente.

Outra guerra mundial
O mundo consumiria,
Dizimando tantas vidas,
Como nunca se veria.
Na Polônia, em holocausto,
Muito Zamenhof infausto
A morte conheceria.

10

Hoje a Unesco reconhece,
No seio da humanidade,
O valor do Esperanto,
Em cuja comunidade
Permanece o idealismo
E o mesmo altruísmo
Da originalidade.

Que esta mensagem alcance
Com a luz da verde esperança
Mais lutadores na causa
Da harmonia e da bonança.
Que a Babel globalizada
Seja logo superada
Pela fraterna aliança.

Ludovico Zamenhof,
Ensinou o Esperanto.
Irmanados no idioma,
Trabalhemos nós, portanto,
Em prol de um mundo novo,
Juntos, como um só povo,
Remido de guerra e pranto.

11



Autor: Leite Jr.
leitejr@uol.com.br
esperantoufc@gmail.com

Porto Alegre, 19 de julho de 2005.
XL Congresso Brasileiro de Esperanto

12



Leite Jr. (José Leite de Oliveira Junior)
Professor do Curso de Literatura da Universidade Federal do Ceará. Mestre em Letras. Prêmio Ceará de Literatura de 1993. Professor de Português do pré-vestibular por 20 anos. Redator publicitário e revisor. Artista plástico, criador de projetos editoriais. Esperantista. Professor de Esperanto na Universidade Federal do Ceará
http://www.esperanto.ufc.br/

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