domingo, 16 de novembro de 2008

Bom humor - Richard Simonetti

Sempre encarei com estranheza as imagens de Jesus crucificado, bem como a tendência de imaginá-lo carregando a "cruz das misérias humanas", em supremo sacrifício para salvação da Humanidade, a "lavar com seu sangue nossos pecados".
Atendendo a essa tendência, as igrejas medievais eram guarnecidas por vitrais escuros, que neutralizavam a luz solar, sustentando atmosfera de angústia e tristeza.
Os pregadores, solenes e monocórdios, repetiam em entonação dramática:
- Lembra-te de que ele sofreu para nos salvar!
Isso sempre me pareceu uma aberração, até porque o Espiritismo não situa Jesus como "o Salvador" no sentido empregado pelos teólogos: livrar o homem da danação eterna.
Veio para nos salvar da ignorância.
Foi abençoado professor, que renunciou às alturas e sujeitou-se a usar a pesada armadura física para mostrar-nos como caminhar mais depressa, rumo à gloriosa destinação.
Como quem fornece abençoado mapa ao viajor inexperiente, facilitou-nos a jornada, preservando-nos de desvios indesejáveis.
Uma das características do Espírito superior é o bom ânimo e, mais que isso, o bom humor, sempre atento aos aspectos positivos da existência.
Imagino que Jesus deu boas risadas, em várias situações, observando as trapalhadas dos companheiros, um tanto tardios em assimilar seus ensinamentos.
É bem ilustrativo o episódio em que João e Tiago, chamados "boanerges", filhos do trovão, em face de seu gênio impetuoso, propuseram um castigo aos habitantes da Samaria, que se recusavam a hospedar o grupo em trânsito por aquela região (Lucas, 9:51-56):
- Senhor, queres que mandemos que desça fogo do céu e os consuma, assim como fez Elias?
Tantas ilustrações e exemplos recebidos, relacionados com o perdão, a mansuetude, a compreensão, a misericórdia, a compaixão, e saiam-se os dois irmãos com aquele disparate!
Imagino Jesus rindo, ao explicar:
- Não vim para matar os homens, para para salvá-los.

Não tive a felicidade de conviver com Chico Xavier. Meus contatos com ele foram sempre superficiais, de passagem, mas os que com ele privaram exaltam seu bom humor e descontração, mesmo quando às voltas com "filhos do trovão".
Como demonstram seus biógrafos, Chico enfrentou existência repleta de lutas e dificuldades, mas, como todo missionário autêntico, era de índole alegre e risonha, a evocar sempre os aspectos positivos da jornada humana, sem queixas, sem vacilações.

Nestas páginas, ofereço ao leitor alguns episódios colhidos de fontes diversas, que transpiram o bom humor do médium, sua sabedoria e simplicidade, sempre fiel aos compromissos assumidos com a Doutrina Espírita.
É uma pálida amostra de uma existência inesquecível, alguém que dividiu o Espiritismo no Brasil entre antes e depois dele.
Nem sempre as citações envolvem motivo para o riso franco, mas, invariavelmente, nos oferecem material para saudáveis e bem-humoradas reflexões.
Bauru, dezembro de 2005
www.richardsimonetti.com.br

Introdução ao
Livro Rindo e Refletindo com Chico Xavier
Editora CEAC - Centro Espírita Amor e Caridade/Bauru-SP

Nenhum comentário: